Crescer é um caminho difícil, cheio de percalços. Adultecer em si não é fácil. Assumir a responsabilidade sobre a própria vida é o primeiro passo, sem dúvida. Sem isso a nossa força está completamente fora de nós e estamos presos em uma dinâmica de culpados e vítimas, completamente imobilizados. Mas esse é só o começo. Depois do duro caminho de autorresponsabilização, vem a parte mais difícil da história, o trabalho de mestre: bancar as próprias escolhas.
Para ser adulto, isto é, ter uma identidade própria que revela a verdadeira essência individual, é necessário sustentar o próprio peso; em outras palavras, ser capaz de “se bancar”. Como Jung diz, este é o precioso caminho de individuação a qual todos deveriam trilhar de forma consciente, pois esta é a maior contribuição que pode ser feita fazer em favor da realização pessoal e do bem comum.
Suportar o peso da própria identidade e das próprias escolhas, de desagradar e de descumprir com as expectativas sobre si mesmo é um preceito para adultecer. Suportar a culpa que vem dessa desaprovação é um grande desafio. Desde pequenos aprendemos a agradar, a ir em direção ao que gera conforto e prazer e ir contra o que gera dor e desagrado.
Pense no bebê, que depende completamente da mãe. Seu bem-estar e sobrevivência em todos os sentidos, depende da mãe. Agradá-la é sinônimo de segurança. Desagradá-la é sinônimo de risco. A partir dessa base, a criança vai desenvolvendo sua identidade. No nosso íntimo, em um lugar onde permanece viva essa criança interior, onde o sentimento de agrado e de desagrado, de segurança e de risco, de amor e de rejeição é rudimentar e praticamente binário, existe a capacidade de nos vincularmos, de estabelecermos laços. Vínculo e sentimentos primários, quase instintivos, não se separam. Quanto mais intenso é o vínculo, mais forte são os sentimentos primários.
Pense em um vínculo forte que você tem hoje – alguém importante para você atualmente. Imagine o que você sente se você decepcionar as expectativas que essa pessoa tem sobre você. Imagine o que você sentiria se você fizesse algo que você sabe que ela não concorda e desaprova. Você acha que a culpa que você sentiria seria maior ou menor do que a culpa que você sentiria em ter a desaprovação de um estranho? Essa é a força do vínculo; e onde tem vínculo, tem culpa. Imagine então o que é para a sua criança ter a desaprovação das pessoas mais importantes da vida dela… os pais. Imagine o tamanho da culpa! É sobre esta base de culpa que a primeira identidade é estruturada.
O caminho de “adultecimento” trata da transição da primeira identidade, estruturada por esta dinâmica espelhada – onde o eu emergente se reconhece nas projeções feitas sobre ele – para uma segunda identidade que manifesta um reconhecimento autoral de si mesmo. Esse processo é composto de várias etapas, cujo ponto de virada está no vazio, oriundo do confronto entre a consciência e as verdades adotadas que vem estabelecendo silenciosamente o status quo do enredo pessoal. Compreender quais são essas dinâmicas primitivas que moldam as verdades – crenças e modelos de resposta emocional – sobre as quais nos movemos, é essencial para que o ponto de virada aconteça e uma vida/ identidade mais plena e realizada seja possível.